segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nossa meteória (ou quase) passagem por Ipiguá



Como prometi, aqui estou eu para relatar os acontecimentos do último final de semana. Desta vez, após muitas súplicas e juras de morte, São Pedro segurou a chuva e nos mandou um sol esplendoroso. Na verdade, tanto sol até nos atrapalhou um pouco (que São Pedro não leia isso... será que no céu tem internet?), pois tivemos que refazer uma cena devido à intensidade da luz. Mas nem dá para considerar isso como um problema... O negócio foi amarrar uma faixa de dois metros entre dois coqueiros plantados a quase dez metros um do outro! Por sorte temos o Macaco! Ele subiu no coqueiro com a facilidade nata dos símios... rsrsrs....
E como já era previsto essa semana a interação da equipe foi bem maior. Aquele estresse do início diminuiu bastante e só o fato de não ter chuva e nem frio contribuiu muito para o trabalho fluir.
No sábado, gravamos a cena da chegada do personagem principal à cidade. Foi uma loucura! Gravamos dentro de um ônibus que a prefeitura de Ipiguá gentilmente nos cedeu. Alguns moradores se ofereceram como figurantes e lá fomos nós, estrada a fora! Confesso que me perdi por um momento na direção e aprendi mais uma coisa: atores e figurantes são criaturas completamente diferentes! Parece claro, não é? Mas se você é um diretor estreante como eu, ou mesmo se pensa em dirigir alguma coisa, algum dia, lembre-se disso. São poucos detalhes que preciso acertar na atuação do elenco do filme, a maior parte das intervenções que faço na cena são referentes à marcação. Acredito (e tenho comprovado essa tese no decorrer das filmagens) que não é preciso ser outra pessoa para atuar. Se o ator entender o personagem em todas suas nuances, ele naturalmente terá as reações necessárias ao momento dramático. E isso fizemos bem durante nossos encontros. Eles entenderam e incorporaram todos os sentimentos que estão implícitos em cada ser que habita o roteiro do filme.
A Carla me disse uma coisa interessante no domingo de manhã, enquanto era maquiada pela Flavinha. “Acordei hoje angustiada pela Ana (Ana é sua personagem). Coitada dessa mulher! Quase chorei pensando no seu sofrimento!”. Isso prova que ela está sentindo a dor de sua personagem, que entendeu os momentos de aflição, absorveu todos os porquês da Ana. Ela não está encarando a personagem como um ser fictício, e sim como uma pessoa de verdade. Fiquei orgulhosa de nós duas! Por ela, que se doou à personagem; por mim, que fiz meu dever direitinho...rs.
Bem, diante disso tudo, falhei com os figurantes. Escolhi duas garotas para contracenar numa cena simplizinha, sem falas, sem maiores problemas. Só esqueci do detalhe que a câmera inibe as pessoas que não estão preparadas para ela e joguei as meninas na fogueira. Dei instruções básicas e liberei o Leandro para gravar. É claro que não deu certo! Elas riram, ficaram tímidas, se atrapalharam até! Depois falei com elas um pouco melhor (apesar de não ser como deveria... agora sei) e a coisa saiu. Mais um aprendizado para essa atrapalhada diretora!
Também descobri que não dá para dirigir sem retorno. Estar com meu monitor ligado é fundamental para que eu me situe na cena. Algumas vezes eu nem peço para ligar, mas ainda que seja uma cena simples, fico perdida sem ele. Mas eu vou aprendendo...
Por volta da meia-noite de sábado começamos a gravar as cenas adicionais na igreja. Faltava pouca coisa, mas era imprescindível que fizéssemos mais alguns takes. Varamos a madrugada gravando e, dessa vez, deu tudo certo.
Já no domingo não conseguimos cumprir o cronograma. Logo pela manhã, muito animados apesar da noite mal dormida (marido, filhos e eu dormimos no chão... alguém pode me doar uma barraca para família, please?), seguimos em direção ao bar. Qual não foi nossa surpresa, quando o proprietário do estabelecimento nos comunicou que não poderíamos gravar, pois o local estava lotado. Voltamos para o QG e ficamos monitorando quando os ilustres freqüentadores do boteco resolvessem desocupar o recinto. Isso aconteceu lá pelo meio-dia... O Ricardo, dono do bar, se saiu muito bem interpretando o dono do bar e o Sr. Serafim, um simpático velhinho que passava por lá, se ofereceu para interpretar um freguês que chega para comprar uma cerveja. De início, o Hunfrey duvidou da interpretação deles, mas fui teimosa e decidi tentar. Deu certo! Fiquei feliz por eles terem ido bem e mais ainda por poder aproveitar o pessoal da cidade para enriquecer o filme. Muito obrigada aos dois!!!
De tarde, tínhamos apenas uma cena para fazer e encerraríamos nossa passagem pela cidade. Só não contávamos com um pequeno “problema”: de vez em quando tem pagode na praça da igreja... E adivinha? Justamente ontem aconteceu o maior rala-coxa em Ipiguá! Por falta de um, dois grupos de pagode estavam tocando na cidade, um na praça e outro no quarteirão seguinte! AFFFFFFFFFFFFFF!!!!!!
Óbvio que não conseguimos gravar. O pessoal do grupo até foi bacana e parou de tocar por um momento, mas aí a música do outro grupo vazava no áudio que estávamos captando e decidimos parar. Resultado? Semana que vem estaremos nós, de novo, na bela Ipiguá!
Ahhh! Mas nem vou reclamar, viu... Deu tudo certo e um atrasinho aqui, outro ali, nem dá para considerar. Estou aprendendo a lidar com imprevistos. Fazer filmes na raça como estamos fazendo é aprendizado para uma vida inteira. Pode acreditar!

O “QG”

Eu não poderia deixar de falar do nosso QG. Pois é, montamos um quartel general no salão paroquial de Ipiguá. Como nosso dinheiro é pouco (muito pouco mesmo), não temos muitas regalias. Mas parece que quanto maior é a dificuldade, o pessoal fica mais animado! Da próxima vez, só vou levar pão e água para alimentar esse povo... rsrsrs.
No canto direito do fundo do salão fica o Dahma, ou melhor, a barraca do nosso protagonista. Com seu colchão inflável, banheira de hidromassagem, sauna seca e a vapor e deck para avistar o por do sol na estonteante Ipiguá, Hunfrey e sua primeira-dama, Flávia Carvalho, aproveitaram momentos de indiscutível prazer em seus aposentos.
Ainda à direita, porém um pouco mais ao norte, podíamos avistar a Caic, bairro residencial onde estavam instaladas as barracas do diretor de fotografia e esposa, Leandro Marcondelli e Patrícia Fernandes, além da barraca do primeiro assistente de fotografia, Fernando “Macaco”. Apesar de desfrutarem de menos regalias, ainda puderam aproveitar o som ambiente e confortáveis lençóis de cetim.
Próximos ao setor de alimentação do QG, ficaram instalados a produtora Valquíria e os assistentes de fotografia Eduardo “Cabelo” e Rafael. Mais adeptos ao um estilo despojado, dormiram sobre colchonetes e edredons de pluma de ganso jamaicano. Um arraso!
Ao sul do salão, de fronte à Caic, estava localizada a Portelinha. Conhecida pelos casebres amontoados, a simpática favela abrigou essa diretora que vos fala e sua família, que dormiram em cobertores e edredons esticados no chão. Não estávamos lá muito confortáveis, porém posso garantir que a vista privilegiada das barracas vizinhas e o calor humano que trocamos em nosso amontoado de cobertas compensou qualquer desconforto!

Como nem só de cultura vive essa destemida equipe, para nossa alimentação providenciei marmitex de feijoada no almoço (para dar uma energia extra), refrigerantes, água, pão de forma com presunto e queijo no jantar, leite frio com chocolate e pão francês com manteiga no café da manhã e sequilhos. Também comprei umas 30 bananas, que o Macaco comeu quase todas. Devia ser umas três horas da madrugada e ele ainda tirava bananas da sua pochete. Normal, não é mesmo?
Estou brincando agora, mas a verdade é que só muito amor por esse projeto fez essas pessoinhas maravilhosas passarem por tudo isso! Daí, pode-se ter uma idéia da verdade que há nas palavras de todos eles quando dizem que o meu sonho agora é de todos da equipe!

Valeu, pessoal!
Ainda que eu não me torne uma cineasta, ainda que eu não faça mais nenhum filme, vou carregar essa experiência maravilhosa por toda minha vida! Vocês são incríveis!

Se alguém conseguir chegar ao final desse post imenso, fique com um beijo meu e mais fotos: dessa vez, os olhares são da Paty Fernandes.

Até a próxima!

Bia

P.S.: Ao anônimo que deixou um comentário sobre fotos dos atores, eles aparecem sim entre os integrantes da equipe. Entretanto, vou providenciar mais fotos deles. Só estamos segurando as fotos em que eles aparecerem caracterizados como seus personagens... só para criar um suspense... Você me entende, né?

4 comentários:

Franklin Catan disse...

Boa noite, pessoal!!!
Estou vindo aqui para dizer que é muito bom trabalhar com todos vocês...
O trabalho está ótimo, as fotos estão ficando show, o pouco de filmagens que eu vi estão perfeitas... e o "A Caminho do Céu" tem tudo para nos levar a até ele, a Bia está ótima como diretora, o Leandro sempre perfeito, o Hunfrey me surpreendeu como Genaro... O macaco simplesmente ele é cara depois de ficar naquele coqueiro parecendo um "macaco" mesmo, isso foi D+... O cabelo arrebentando, em fim, a todos...parabéns
Peço desculpa a todos, pela minha ausência as vezes... por não poder ficar com você todo o tempo....mas, agradeço a todos... e espero estar contribuindo para que tudo de certo...
Obrigado a todos e Bia, Hunfrey, Leandro... obrigado pela oportunidade de fazer parte desse filme que está perfeito....
Um grande abraços....
Postei a mesma coisa que mandei no e-mail, mas quero dizer que está tudo perfeito... mesmo ... é só isso que tenho a dizer.. parabéns, parabéns!!!

Bia Lelles disse...

Valeu, Franklin!
Obrigada pelos elogios e, principalmente, pela ajuda com o filme! O sucesso virá para todos nós!
Beijo!

Karol Granchi disse...

Foi um trabalho árduo chegar até o final deste post...rs.

Já repararam como esse cachorro já virou parte desta equipe?rs.

Anônimo disse...

Olá... li seu artigo e nunca imaginei que um dia iriam rodar um filme em Ipiguá. Morei oito anos nessa cidade!!! Quando falou do salão paroquial e dos rala cocha... meu Deus... nada mudou lá (nem o sol... continua fritando miólos, películas, filmes e tudo que é relacionado ao mundo fotográfico). Sinceramente... eu não tenho nenhuma saudades desse local. Achei muita coragem sua filmar lá e, pelo que entendi, 25% da cidade estava dentro do ônibus! Sucesso com seus projetos e se quiser escolher uma cidade menor tem Macaubas, perto de Mirassolândia.

sucesso

Frederico Ileck
http://www.flickriver.com/photos/9189666@N06/